Isso explica, inclusive, as diferentes maneiras de ação realizadas pelo homem, dependendo da sociedade na qual ele está inserido.
O homem, com seu cérebro extraordinário e o seu polegar opositor, que permitem a racionalização das ideias e a manipulação dos objetos, criou ao longo do tempo artefatos, instrumentos e, também, desenvolveu ideias (conhecimento, valores, crenças) e mecanismo para a sua elaboração (raciocínio, planejamento...). Tudo isso ele realizou a partir da atividade humana fundamental, responsável pela produção da própria existência humana: o trabalho.
Atividade eminentemente humana, o trabalho permitiu aos homens sobreviverem e desenvolverem enquanto espécie. Ele é um elemento fundamental para entender a própria constituição dos homens enquanto seres sociais. É a partir do aumento da produtividade, quando os homens deixam de lado sua forma mais instintiva e passam a viver em coletividade, que podemos falar na nossa existência. Pois o homem não vive isolado, ele precisa dos outros seres para se desenvolver e se constituir enquanto espécie. De outra forma, seríamos animais como outro qualquer, vivendo apenas da nossa instintividade.
Entendido, em linhas gerais, a criação do indivíduo social e, mais precisamente, a formação das relações humanas, discutiremos agora o surgimento, desenvolvimento e consequências da sociedade capitalista. Nesse sentido, é necessário entender os últimos momentos que decretaram o declínio da sociedade feudal, a partir de ações desenvolvidas por uma classe, revolucionária nesse momento, responsável por essa derrocada, a burguesia.
A burguesia cresce e se desenvolve a partir do renascimento comercial ocorrido nos últimos momentos da sociedade feudal. O comércio lucrativo nesse momento são as atividade comerciais realizadas com o oriente, através da compra e venda das especiarias. Como a rota comercial ligando a Europa ao Oriente era monopolizada pelos árabes, esses despejavam os produtos nas cidades italianas de Gênova e Veneza, na qual manipulavam o lucrativo comércio com esses artigos.
Querendo participar desse lucrativo comércio, Portugal, seguido por outros países Europeus, lançam-se ao mar em busca de um novo caminho que leve ao Oriente. Nessa tentativa, acabam desembarcando em terras Americanas, realizando um processo de colonização desses lugares e povos que lá encontravam.
Essa expansão marítima favoreceu a expansão comercial, pois os europeus passaram a ter mais produtos, mais matéria-prima, mais mão de obra e novos mercados consumidores, acelerando o processo de acumulação de capital nas mãos da burguesia e, também, favoreceu a expansão territorial, pois esses novos territórios, bem como os povos que ali habitavam, passaram a ser dominados pelos europeus. Entretanto, ajudou, também, a ampliar a concepção de mundo dos povos da Europa, só que de forma etnocêntrica, ou seja, acreditavam que os povos recém “descobertos” eram inferiores, pois não apresentavam o mesmo nível tecnológico e nem organização política, social, econômica e cultural similar ao deles.
Para fortalecer a expansão comercial, a burguesia passa a apoiar a centralização política nas mãos dos reis. Nesse sentido, os reis passam a centralizar a justiça, as forças armadas, o poder. Ele é o único a definir a moeda, os impostos. Essas ações favorecem ainda mais os negócios da burguesia. A formação desses estados-nações, controlados pelos reis, na prática significou a legitimação da concentração do poder e do capital.
No plano intelectual, as manifestações artístico-culturais sinalizam novos tempos. O Renascimento surge como um empreendimento de valorização da obra humana, colocando o homem como agente da história. As características centrais desse período é o uso da razão, o individualismo e o humanismo.
No campo religioso, a reforma protestante entra em vigor com suas críticas a Igreja católica da época, em especial pelo tipo de prática utilizada por parte do clero. Dentre as várias novas ideias presentes na concepção desses reformadores, estão envoltos os novos valores presentes no ideário de trabalho, riqueza e lucro. O trabalho agora não era mais visto como uma coisa realizada apenas por aqueles que estavam designados ao castigo pelos pecados, ele era visto como vocação. Isso favoreceu o fortalecimento do espírito da nova sociedade capitalista nascente, pois agora poderia contar com braços disponíveis para cumprir sua “função” nas fábricas que surgiam.
O século XVIII pode ser considerado como definidor da consolidação da sociedade capitalista. As ideias iluministas, influenciando o ideário dos revolucionários franceses, surgem com as concepções de liberdade social, política, econômica e intelectual. Entretanto, essa liberdade era designada, principalmente, para a nova classe nascente, a burguesia, que desejava maior liberdade comercial para os seus negócios.
Entretanto, é no plano da produção que a mudança se faz realmente presente. Como o comércio aumenta e diversifica, a forma artesanal, antes presente na idade média, não é compatível com o aumento da demanda por produtos. Surgem então as manufaturas e, logo em seguida, as fábricas, com o intuito de tornar ágil e mais barato a produção. Em linhas gerais, isso significou para o trabalhador a perda do controle da produção e do seu próprio trabalho. Ele agora não mais tem a dimensão do todo da produção, apenas se especializa em uma única tarefa, que acontece de forma repetitiva, monótona, sem criatividade, produzindo alienação[1]. Nesse sentido, a máquina torna-se o elemento principal na produção. Os trabalhadores então, despossuídos dos meios de produção (instalação, matéria-prima, ferramentas), tem apenas a sua força de trabalho para ser vendida como uma mercadoria qualquer no sistema capitalista.
A revolução industrial foi muito mais do que a introdução da máquina no processo produtivo. O artesão desaparece e surge uma nova classe social, o proletariado, responsável pela geração da riqueza desse novo sistema[2]. Acelera-se, também, nesse período, o processo de urbanização das cidades, surgidas para comportar as fábricas nascentes. Como a indústria passa a ser a atividade econômica principal, muitas pessoas deslocam-se do campo em busca de oportunidades nas indústrias que surgem.
É nesse processo que aumentam e complexificam-se as tragédias sociais. O novo sistema capitalista é responsável pelo aumento de uma geração de riqueza e, ao mesmo tempo, pelo crescimento da miséria, com muitas pessoas sem emprego, renda, vivendo na pobreza. Aumentam os problemas de suicídio, violência, drogas, prostituição, etc, ocasionadas, principalmente, pela acumulação da riqueza. É nesse clima que surge a sociologia, com o intuito de tentar explicar esses fenômenos através da aplicação do método científico para o entendimento da sociedade.
Essa nova ciência surge no século XIX com a teoria dos positivistas. Sendo assim, é necessário caracterizar esse momento para entender as formas de pensamento presentes. Esse período é caracterizado como uma nova Revolução industrial, surgindo novos inventos que irão favorecer o aumento e diversificação da produtividade. Ao mesmo tempo que o capitalismo se expande, uma crise é marca emblemática dessa nova fase do capital, a crise de superprodução. A solução encontrada, especialmente pelos países capitalistas europeus, é a busca de novas fontes de matéria-prima, novos mercados consumidores e mão-de-obra barata. Surge então um novo processo de colonização, em que o alvo principal agora são os povos africanos e asiáticos.
Essa fase do capitalismo, conhecida como fase imperialista do capital, é caracterizada, também, pelo monopólio comercial. A justificativa ideológica utilizada pelos imperialistas, nessa nova colonização, é que eles tinham uma “missão civilizadora”, ou seja, “levar” ciência e tecnologia aos países colonizados como os da África e Ásia. Entretanto, o que eles de fato criaram foi à expansão e domínios desses monopólios comerciais ao restante do mundo.
[1] A indústria, a propriedade privada e o assalariamento geraram o processo de alienação do trabalho, no sentido que afastou o trabalhador dos meios de produção e do produto do trabalho. O trabalhador não se reconhece naquilo que ele mesmo produziu. Há um afastamento do trabalhador e do produto do trabalho, facilitando a exploração.
[2] Riqueza essa que é acumulada por uma outra classe, a burguesia, que se apropria do trabalho e do produto do trabalho gerado pelos trabalhadores.