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Educação


Apostila de estudo (complemento)
Apostila de estudo (complemento)

Caros aluno (a)s, esta semana ampliaremos o leque da abordagem sociológica dos autores

Durkheim e Marx. Para este momento, queremos mostrar como os referidos autores entendiam a educação e sua importância social. Para facilitar os trabalhos desta semana reproduzimos  parte de  um material bem didático organizado pela Universidade do Sul de

Santa Catarina (UNISUL) em 2007.

 

PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA SOCIEDADE

POYER, Viviani. Sociologia da educação. Palhoça: UnisulVirtual, 2007. 154 p.

O homem faz a sociedade, ou a sociedade faz o homem?

Bem, já não é de hoje que esta pergunta recorre os meios científicos e, principalmente, o âmbito onde pontuam os sociólogos. Na realidade, está posta em estudos, questionamentos e discussões desde as primeiras manifetações da sociologia enquanto ciência.

E trata-se de uma pergunta de natureza dialética, com certeza, ao indicar, de um lado, a possibilidade de se perceber a sociedade enquanto determinante das ações individuais; e, de outro, o indivíduo como agente criador e transformador da vida em sociedade. Um conflito conceitual, interpenetrante, com o qual, repito, os cientistas sociais lidam até hoje.

Diante do impasse, alguns cientistas  se empenharam em “demonstrar a existência plena da vida coletiva com alma própria, acima e fora das mentes dos indivíduos. [...] Outros pensaram em tratar a ação individual como ponto de partida para entedimento da realidade social [...].

(RODRIGUES, 2007, p. 17-18)

 

Continuamos sem conclusões, não é?

Mas pode-se afirmar que, de certa forma, todos os cientistas os quais se envolveram com essa questão não estiveram errados em suas afirmações, pois os homens criam a sociedade ao mesmo tempo em que ela os cria, e o mundo criado dura o tempo  de vida de cada indivíduo.

Partindo desta idéia, torna-se possível perceber a importância das demais ciências  –  por exemplo, a História -, para se pensar a Sociologia, ou mais especificamente, a Sociologia da Educação. Afinal, como pensar, estudar, analisar a história humana, sem que se conheça a vida dos homens?Isto remete a pensar que não é possível dissociar o sujeito da sociedade  e, conseqüentemente, dissociar a educação, seja do social, ou do sujeito. É como uma trama em que se procuraria, sem resultado, localizar a ponta do fio.

A presente discussão, introdutória, direciona a alguns aspectos do pensamento sociológico de Durkheim,  voltado à percepção da sociedade. Para ele, distinto do reino mineral e do vegetal, existia um “reino social”, muitas vezes  chamado por ele de “reino moral”. Ete seria um lugar composto pelas idéias e pelos ideais coletivos. Influenciado pelo cientificismo do século XIX, Durkheim considerava o sociólogo como o único cientista que poderia descobrir as leis da vida social, do mesmo modo que um físico descobrira a lei da gravidade. Na sua visão, a Sociologia era uma ciência positiva acima de tudo, embasada em métodos e leis.

Para Durkheim, o meio moral é produzido a partir da cooperação entre os indivíduos, por meio de um processo de interação chamado por ele de divisão social do trabalho. Em decorrência

Continuamos sem conclusões, não é?

Partindo-se da idéia de que a sociedade nos molda, será, então, correto afirmar que a educação tem como objetivo nos dar formação e também, nos enquadrar aos moldes da sociedade?

Para Durkheim, o meio moral é produzido a partir da cooperação entre os indivíduos, por meio de um processo de interação chamado por ele de divisão social do trabalho. Em decorrência desta divisão social do trabalho, obtém-se uma forma de cooperação, ou seja, de vida em coletividade, que vai dar origem a um determinado tipo de vida moral. Esta, por sua vez, constituirá a base de crenças, valores e normas, a qual acaba sendo transmitida de geração a geração, e que, para ele, recebia o nome de educação. Educação num sentido mais amplo, num sentido muito próximo da palavra cultura, ou seja, apontando para a maneira como nos comportamos em sociedade. “Assim, a educação, para Émile Durkheim, é essencialmente o processo pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade. Educação é socialização.” (RODRIGUES, 2007, p. 27).

 

Bem, a partir desta rápida visita à concepção de Durkheim acerca da sociedade, foi possível levantar alguns aspectos bastante significativos para contrapormos a outros que serão mostrados mais adiante. Até  este momento, pudemos perceber que a sociedade nos molda e que a educação que recebemos tem, entre seus objetivos, enquadrar-nos ao meio social em que vivemos, bem como, transmitir nossas experiências coletivas, de geração a geração.

 

Parece tudo tão maravilhoso e perfeito, não é mesmo? Então, será que as muitas críticas feitas a Durkheim podem ser consideradas irrelevantes?

A questão aqui não é ser relevante, ou não; também não é emitir juízo de valor; mas sim, perceber o que há por trás, ou seja, o que existe oculto nesta dita sociedade capitalista. E, em busca de tal percepção, questionar-nos sobre a realidade, “pintada” muitas vezes como perfeita. É imperativo perceber como se enquadram os sujeitos a esta sociedade, quais os mecanismos utilizados neste processo de enquadramento e a quem este interessa realmente. É preciso  identificar quais forças emergem nesse processo em que muitos são esmagados, massacrados e oprimidos por poucos, em nome de um ordem. E ainda perceber que a educação muitas vezes é constituída em um instrumento de manutenção desta ordem.

Para buscar respostas a tantas suposições e desconfianças em torno da sociedade capitalista, nada melhor do que consultar as idéias marxistas, uma vez que o principal objeto de estudo de Marx foi a própria sociedade capitalista, que se fortalecia crescentemente.

Marx procurou olhar a sua volta e ver muito mais do que se via. Procurou estudar, pesquisar e entender, criticamente, aquela realidade que se colocava dura e cruelmente para certos grupos sociais. Procurou entender o processo histórico em curso, o qual acentuava as diferenças sociais, como se um fosso cada vez maior se abrisse no meio da sociedade e empurrasse sempre mais para cima a burguesia  –  enquanto classe dominante e detentora dos meios de produção; e, os trabalhadores sempre para baixo, por meio da expropriação de seus instrumentos de produção e de seus conhecimentos, até então transmitidos de geração para geração.Graças às interpretações e aos estudos de Marx e Engels,  pode-se ter consciência de que as mudanças históricas não são resultado de ações súbitas e espetaculares empreendidas por alguns indivíduos os grupos, mas, sim, resultado de longos processos sociais, econômicos e políticos, os quais derivam, principalmente, das relações de trabalho e da propriedade dos meios de produção.

O marxismo interpreta os acontecimentos humanos como resultado de contradições, lutas e conflitos sociopolíticos, determinados pelas relações de exploração do trabalho de uma maioria, por uma minoria. A partir das idéias marxistas, pode-se considerar, sobretudo, que os fatos humanos são historicamente determinados, o que assegura serem os mesmos estudados, conhecidos e interpretados de forma racional.

 

IDEOLOGIA E A PRODUÇÃO DO SUJEITO NA SOCIEDADE MODERNA

Nesta seção, procuraremos compreender o significado da palavra ideologia em suas diversas acepções, bem como, o papel desta na produção da sociedade e do sujeito. Esta palavra é, pode-se dizer, de difícil abordagem objetiva, por possuir diversas concepções e, com freqüência, levar a alguma generalidade conceitual.

Pode-se dizer que a definição clássica desta palavra provém das idéias marxistas, mas, para compreendê-la consoante fez Marx, é preciso deter-nos, inicialmente, ante outros importantes aspectos, como a questão da alienação social.

 

ALIENAÇÃO SOCIAL

Por alienação pode-se entender o fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem algo, dão vida a este algo, na crença de que ele exista por si mesmo e em si mesmo; sobretudo, deixam-se governar por ele, não se reconhecem nisto que criaram, tornam este algo como superior a si próprios e com poder sobre suas vidas. Um exemplo para esclarecer  melhor este fenômeno seria a formação das religiões. Pensá-lo também ajudaria a entender a questão relacionada à alienação religiosa. Mas, além das questões religiosas, Marx estava interessado em compreender como se dava a alienação social, por que os homens não conseguiam ver-se enquanto criadores da sociedade, da cultura, da política e, sobretudo, por  que não se viam enquanto agentes históricos que, em determinadas condições, eram, sim, os criadores de instituições que formam a sociedade como um todo. Para ele, os homens não se percebem como sujeitos e agentes, com capacidade de criar e transformar, mas como seres que se submetem às condições impostas, como se estas condições tivessem vida própria.

 

Para compreender como se dava este fenômeno, muitas perguntas eram feitas, entre elas a que remetia à existência da alienação social!

 

Em seus estudos e pesquisas sobre as sociedade historicamente construídas, marx percebeu que estas se formavam, independentemente do porte ou do modelo, sempre a partir de uma divisão, e que era  a partir desta divisão que se organizavam todas as relações sociais instituídas. Para ele, a sociedade nasce, de regra, a partir da estruturação de um conjunto de divisões, entre elas a divisão sexual do trabalho, a  divisão social das riquezas, da economia, do poder religioso; e considera esta uma característica sempre presente em qualquer sociedade, por estar presente, também, em todas as instituições sociais.

 

Segundo ele, em todas as instituições sociais teremos  sempre uma parte que detém o poder, enquanto outra é subjugada a este poder, por isso a idéia de divisão. E é a partir da complexificação das divisões destas instituições sociais que temos a estrutura das sociedades divididas em classes sociais.

 

Aspectos como estes eram vistos de forma naturalizada, ou, muitas vezes, como fruto de algo superior, uma divindade, de modo que as pessoas até então não se questionavam e, consequentemente, não se viam enquanto sujeitos históricos. Por isso pode-se afirmar que alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que se vive, tendo o homem enquanto construtor destas condições presentes ou passadas. Segundo Chauí (2002), esta alienação é uma via de mão dupla que, por um lado, tem o homem enquanto sujeito que não se percebe como criados da sociedade e, por outro, o homem  que ignora o fato de que a sociedade criada por ele determina suas ações e pensamentos.

[...] Sendo assim, também pode-se concluir que a alienação social se constitui  como uma

suposta “teoria de conhecimento espontânea” que forma o chamado senso comum. Você já parou para pensar o que significa a palavra senso comum? Ou, para pensar que, no nosso cotidiano, acabamos utilizando-nos muitas vezes de explicações embasadas no chamado senso comum para darmos conta de aspectos políticos, culturais, educacionais...?Pois é assim: utilizamos a palavra senso comum atributivamente, muitas vezes para fazermos alguma crítica a algo ou a alguém, mas vivemos utilizando-nos do senso comum para justificar, também, nossas ações preconceituosas, atitudes insensatas, ou, até mesmo, para aceitarmos as coisas como elas são e nos conformamos com nossas vidas.

Ex: Acreditamos que as pessoas são pobres por sua culpa, seja esta pobreza causada por falta de vontade de trabalhar, por serem relaxadas, por só quererem vida boa, por serem inferiores e menos inteligentes, ou, até mesmo, por vontade divina.

 

Vamos parar então e refletir um pouco acerca deste exemplo. Mas não vale dizer: Ah, eu não penso assim... Faça um “exame de consciência” e tente lembrar se, alguma vez, esses pensamentos já não passaram pela sua cabeça quando se deparou com alguma situação conflituosa.

Pensou? Então, agora vamos refletir outro pouco sobre como estas idéias vão se construindo e formando o chamado senso comum.

Pode-se dizer que o senso comum social, muitas vezes reproduzido de forma indiscriminada e até descontextualizada é resultado  de elaborações intelectuais da sociedade. Na maioria das vezes, esta são feitas por médicos, cientistas sociais, filósofos, escritores, sacerdotes, de acordo com o seu ponto de vista e a classe social a qual pertencem, que em geral também é a classe dominante política e/ ou economicamente. “ Essa elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social é a ideologia.” (CHAUÍ, p. 2002, p. 174).

 

IDEOLOGIA

Como  já havia afirmado no início desta seção, definir a palavra ideologia não é tarefa fácil, uma vez que se pode correr o risco de abrir um grande vácuo e cair-se em generalizações. De forma geral, é possível encontrarmos  três diferentes significados para esta palavra. São eles: um significado mais pejorativo, em que a ideologia é entendida como uma idéia falsa, como justificação de interesse ou de paixões; um significado mais neutro, em que a idelogia seria uma interpretação mais ou menos coerente de uma realidade social e política; e, por fim, um significado  mais instrumental, definido por razões operacionais dentro de um determinado contexto.

No Aurélio: Novo Dicionário da língua Portuguesa, a palavra ideologia é definida  como o conjunto de idéias, valores, opiniões, crenças etc., próprias de um grupo social (classe, partido político, organização religiosa, etc.), conjunto este desenvolvido em uma determinada época e que expressa o espírito de uma situação histórica.

Mesmo  Marx e Engels não fecharam o conceito da palavra ideologia em uma única idéia.

Numa carta de Engels, escrita em 1893, esse aponta para a idéia de “consciência falsa”:

A ideologia, afirma ele, é, de fato, um processo realizado conscientemente pelo assim chamado pensador, mas com uma consciência falsa. As verdadeiras  forças motrizes que impulsionaram esse processo permaneceram desconhecidas para o pensador; de outro modo, tal processo não seria ideológico. O pensador imagina, portanto, forças propulsoras falsas ou aparentes. [...] Trabalha exclusivamente com materiais intelectuais, que aceita de imediato, como criação do pensamento, sem submetê-los a outro processo de investigação, [...]. (ENGELS, apud GADOTTI, 1987, p. 104-105).

Através de análise um pouco  mais ampla desta sua carta, pode-se entender que para Engels, ideologia “é um pensamento estruturado com uma lógica e um rigor próprios, apresentando-se como um sistema de idéias ou de representações.” (GADOTTI, 1987, p. 105). Tal sistema, que o autor aponta, poderia estruturar uma religião, um mito, ou até mesmo uma filosofia, mas submetido a leis próprias, independentemente do contexto.

 

A partir desta análise, ideologia, segundo Marx, é uma concepção falsa de história, uma expressão idealizada que representa os interesses de certos grupos com poder econômico, no intuito de dissimular a história em benefício próprio. Em conformidade com Marx, indicar um pensamento como ideológico é como mostrar uma mentira, uma farsa.

 

Pouco tempo  após esta primeira interpretação, Marx ampliou o entendimento da palavra ideologia, passando a falar em “ideologias”, que seriam as idéias das classes sociais dominantes de que o proletariado deveria libertar-se por meio de uma construção objetiva e correta da realidade e que expressasse os interesses do próprio proletariado.

Resgatando e reforçando alguns aspectos da palavra ideologia, podemos ainda dizer que a função da ideologia consiste em disssimular e ocultar as divisões sociais e políticas existentes a sociedade, de modo a inculcar a idéia de  “indivisão social e diferenças naturais”entre os seres humanos.

1

Esses termos são utilizados por Marilena Chauí, que entende os mesmos como:  indivisão  –  apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais [...] e  diferenças naturais  –  as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social, mas por diferenças individuais do talentos e das capacidades, [...]. (CHAUÍ, 2004, p. 174).

 

Com base nessa discussão, pode-se concluir que a produção ideológica da ilusão social tem por finalidade a aceitação, por parte das classes sociais, de suas condições de vida como algo natural, dentro dos padrões de normalidade, sem a mínima intenção de transformar esta realidade ou sequer reconhecer como estas “leis” ou esta “ordem” foram criadas. Assim, o sujeito acaba submetendo-se à realidade que, de certa forma, é apresentada a ele, sem sequer dar-se conta da sua potencial capacidade transformadora. Chegou o momento de efetuar mais um questionamento a você: quais são os artifícios utilizados pela ideologia para alcançar estes aspectos anteriormente descritos?

Bem, pode-se afirmar que as idéias ideológicas se utilizam de três procedimentos para obter tais resultados:

  Inversão;

  Imaginário social;

  Silêncio.

Você verá, a partir de agora, com se dá cada um desses procedimentos na realidade. No caso da  inversão,  os efeitos são colocados no lugar das causas, transformando essas últimas em efeitos. É como  diz a própria palavra: há uma inversão de ordem. Veja a seguir um exemplo bastante elucidativo, para entender o que se quer dizer aqui:

A profissão do magistério era relacionada única e exclusivamente ao sexo masculino no Brasil, até o início do século XX. Com a nascente indústria brasileira, o homem começou a largar profissões como o magistério, para trabalhar em fábricas, as quais pagavam melhor.

Esta atividade, até então, era proibida para as mulheres, porque se dizia que elas poderiam constituir um risco  às questões morais. Todavia passaram a ser “recrutadas” posteriormente, para ocupar os postos abandonados pelos homens.

Para “legitimar” ou “justificar” a entrada da mulher no magistério, começou-se a atribuir à função características femininas, entre elas a questão da maternidade, a doçura e a paciência. A partir daí, já se afirmava  que a mulher era uma educadora nata: e quem melhor poderia desempenhar essa função numa sociedade em transformação? Mais, ainda: dizia-se que, para a mulher, esta não era uma questão profissional, mas uma questão natural, quase biológica. Se era natural, não havia necessidade de se remunerar bem esta função, pois a mesma deveria ser cumprida como uma dádiva, um compromisso, uma vocação.

 

Já por meio do  imaginário social,  entra em ação a imaginação reprodutora  em que representações, normas e valores explicam toda a realidade e apontam para a sociedade, para o que ela deve pensar, falar, e para como deve agir. É como se configurassem padrões no modo de entender a realidade e de se comportar nela, ou diante dela.

Por fim, o outro procedimento da ideologia: o  silêncio.  Aqui a ideologia silencia questões pertinentes, que se justificam em si mesmas, enquanto interesses diversos de um grupo ou de determinados grupos vão sendo reproduzidos e implantados em nossa sociedade até mesmo em forma de lei, muitas vezes.

[...]

Pode-se dizer, assim, que a ideologia silencia questões como estas, pois evidentemente, se declarasse os reais interesses que existem ocultos, subjacentes, perderia sua força e coerência colocando em risco os objetivos encobertos das classes detentoras do poder.

Fonte: https://moodle.ifal.edu.br/mod/resource/view.php?id=125891 Acesso em 05/05/2014